
Antônio Leão Teixeira Júnior, o Leãozinho, em ilustração de Jorge Braga
O último adeus de um amigo e parceiro
>> Morreu dia 15 de dezembro, aos 74 anos, no hospital Albert Einstein, em Goiânia, meu amigo e poeta, o sagitariano Antônio Leão Teixeira Júnior, o Leãozinho. Nos últimos dias, ele se queixava de dificuldades em urinar e ao ser avaliado pelos médicos, constatou-se que a sua bexiga estava cheia de sangue. Ao passar por um procedimento para contornar aquela gravidade, não resistiu à cirurgia e faleceu. O velório e o enterro aconteceram no domingo com a presença da família, filhos e poucos amigos.
O nosso querido amigo épico, Arthur Otto, esteve por lá, para dar o último adeus ao Leãozinho, era um dia chuvoso e não viu ninguém da nossa turma, foi ele quem nos trouxe alguns detalhes do sepultamento. Eu mesmo não fui me despedir do meu parceiro musical, não daria tempo, recebi a notícia por volta das 14h (estava almoçando, longe do Cemitério Jardim das Palmeiras) e o sepultamento estava marcado para às 15h, só fiquei sabendo através de vários telefonemas do Badú, do Tuca, Gancho, Itamarzinho, Jornal Opção, dentre outros, ao mesmo tempo. Meu parceiro se foi, mas deixou um legado para os filhos Arthur, Cejana, Ello, Giovana, Inri, Rodrigo, Ulov e Victor. Seu irmão Ricardo foi quem prestou a última homenagem ao poeta durante o velório.
Leãozinho sempre foi interessado pela leitura e pela escrita, desde a infância, quando mandou uma carta super interessante, aos quatro anos, para o Papai Noel, a sua declaração virou a sensação da época. A publicação foi posteriormente incluída em seu livro “Arroz com Pequi”, de 1979, com capa de Wagner Luz, caricatura de Jorge Braga e ilustrações de Siron Franco. Além desse, deixou outros seis livros publicados.
Antes da sua primeira publicação no mundo literário, Leãozinho ingressou com a sua geração no movimento underground e da contracultura, com incursões no rock vanguardista no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Goiânia, na década de 1960. Participou do grupo Grito Primal, formado por mim, Hielo Bonfim, Nabinha e Ele, foram várias apresentações, no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFG, quando o local (viela da Rua 3, no Centro, antes Av. Araguaia) abrigava grupos musicais e de teatro. Outras apresentações foram realizadas também nos clubes Cruzeiro do Sul, Jóquei Clube, Jaó e Social Feminino.
Mas a vida não era só arte, cultura, música e poesia. No início da década de 1970 fomos ao Rio de Janeiro para manter contatos com alguns produtores musicais e ficamos hospedados na casa do Dudinha, em Santa Tereza. Ele morava em uma escadaria da Rua Cândido Mendes e nos recebeu com o maior carinho. Numa dessas andanças, à noite, em 1970, próximo da casa onde estávamos hospedados um camburão nos abordou. O Leãozinho parecia um viking, com barba e cabelos encaracolados para o alto, e eu, um branquelo cabeludo que o acompanhava. Os militares chegaram, chegando...
-- Documentos, bradou um deles. Mostramos nossas identidades e o Leãozinho apresentou ainda a sua “carteira” de militar, ele era “1º Tenente” do N.P.O.R, classificado para uma possível reserva do Exército Brasileiro. Não deu outra: o milico curtiu com a cara dele e falou para o Sargento líder da corporação:
-- O que eu faço com esse tenente?
E o chefe respondeu:
-- Joguem eles aí dentro e leva para a delegacia.
Dormimos no xilindró, naquela noite, era uma época em plena ditadura militar, de grande repressão e só se safava da abordagem que andasse com a Carteira de Trabalho, assinada. Fomos autuados por “vadiagem”, e só saímos no dia seguinte, graças à presença da mãe do Dudinha, que foi lá no presidio para nos libertar. O que aconteceu depois é uma outra história...
Depois de tanto vanguardismo, Leãozinho virou professor
Além de brilhar na literatura e música, Leãozinho também se destacou no universo acadêmico, com publicações que conectavam a Administração à prática. Entre suas obras estão Ensinamentos de Administração – uma abordagem definitivamente prática e didática, além de estudos como Pesquisa Avançada de Clima Organizacional (PACO), apresentado no XVI ENANGRAD, reforçando sua capacidade de navegar entre diferentes áreas do conhecimento.
Livros publicados
Entre seus romances estão A Lenda da Ilha dos Caingangues (1995), As Identidades de Givan (2007) e Diário de um Porto Seguro (2009). Recentemente, ele havia concluído Poemas Trifásicos, uma coletânea poética que abordava diferentes fases da vida, e deixou pronto um romance inédito intitulado Marimbondal, reafirmando que sua criatividade permanecia incansável até o fim.
Mas foi em 2020 que Leãozinho desabrochou para a poesia e para a música. Lançou o Banquete – Seleta de Poesias, uma coletânea de textos, fotos com ilustrações de artistas como Siron Franco, Jorge Braga, Ângelo Lima e Ulov Teixeira. O livro reúne poemas, alguns foram musicados por mim, como Não ao Não, Libertino-Libertano e Quarta-Feira.
Com toda essa bagagem cultural faltava ao Leãozinho a sua confirmação como músico e compositor e tudo aconteceu em maio de 2022. De uma só vez, com o apoio dos produtores musicais Jairo Reis e Bororó Felipe gravou o CD “Miscelânea – Democracia Musical”, com o luxuoso apoio do baterista Moka Nascimento e do produtor Gilberto Corrêa. Das 12 composições (10 são de autoria dele, letra e música), as outras duas, Comancheiro e Rock Estrela são parcerias comigo.
O show do Leãozinho foi realizado no histórico teatro da Escola Técnica Federal, na rua 75, Bairro Popular, hoje Centro. Uma pequena plateia o acompanhou na apresentação, incluindo sua mãe Iolanda e o irmão Ricardo. No CD, Leãozinho interpreta três personagens e se caracterizal como tal. O roqueiro é Leão Gyn, seu Nenzinho é da boemia e Antônio Leão, o poeta.
Leãozinho foi casado com Carmem Maria, mas estava divorciado. Mudou-se de um apartamento na rua 72 e foi morar sozinho em uma kitinete no Edifício Fidélis, na rua 3, no Centro, ao lado do Mercado Central. Como todo poeta, mostrou um total desapego pelos bens materiais. Por ali passou a escrever diariamente vários poemas, e alguns pedia para eu musicar. Num desses encontros, ele veio à minha casa e fizemos na hora o Rock Estrela, “essa estrela vem para perto de mim”, composição que ficou empolgante com os arranjos de guitarra do Jairo Reis no CD. Ele também prestou outra homenagem ao nosso “clássico” – El Comancheiro, música que fiz com letra do Belo, composição que abre a sua coletânea musical.
E para terminar essa crônica, escolhi o poema “Meu cansaço”:
“Te entrego a paz em castiçais.
Removo os ovos mornos, renovo os votos nulos.
Tudo em volta está desperto.
Tu te escondes num deserto sem mormaço,
E eu, bem perto, me descanso sem remorso”
Siga em paz meu amigo, por aqui vamos contando suas histórias e seus sonhos e quem sabe ainda nos encontraremos na paz celestial. (Paulo Menegazzo)